sábado, 19 de novembro de 2016

Sobre as apresentações nos CEU's Jambeiro e Água Azul

Roda de conversa pós espetáculo, CEU Jambeiro - Guaianases. Foto: Maria Elisa Frizzarinni

"INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO: integração privilegia o portador de necessidades especiais dividindo com ele as responsabilidades da inserção, enquanto a inclusão tenta avançar exigindo exigindo da sociedade condições para a inserção. Parabéns Edgar Izarelli de Oliveira pelo belo exemplo de determinação, força e integração. Agradeço em nome da Unesp e UniCeu Água Azul pela parceria e por dividir conosco seu conhecimento.
Espero que mais pessoas possam ter o privilégio que tivemos em assistir seu espetáculo é aprender contigo o verdadeiro significado de integração."


- Daniela Guidoni 

"Achei muito legal o espetáculo, pois mostra para as pessoas "ditas normais", que uma deficiência não é fator limitante para a vida. Mostra que precisamos integrar e incluir as pessoas com deficiência, tanto na escola, quanto na sociedade, afinal, tanta luta por inclusão, e nos esquecemos que a integração também é importantíssima e tem que andar de mãos dadas com a inclusão, e vou além, eu incluo a acessibilidade também, formando uma tríade importantíssima para que a pessoa com deficiência se sinta realmente parte da sociedade."

- Jean Carlo Martinelli 


Lua em cena, CEU Água Azul - Cidade TIradentes.
  

Olá! Primeiramente, gostaria de dizer o quanto somos gratos à Maria Elisa Frizzarinni e Daniela Guidoni pela verdadeira batalha que tiveram para nos dar oportunidade de realizar esses dois trabalhos! Esperamos ter correspondido as expectativas e contribuído, de alguma maneira, com comunidade e com a discussão sobre integração de pessoas que convivem com diversidades funcionais das mais variadas espécies e em seus mais variados graus. Queremos também agradecer imensamente às interpretes de LIBRAS, Tatiana Milanez, Érica e Rosana e a toda a equipe que nos acolheu e se esforçaram em nos atender em tudo que solicitamos!        

Em cena, CEU Água Azul - Cidade TIradentes. Foto: Daniela Gidoni
Um pensamento que é recorrente na minha forma de entender e conceber a arte e que se intensificou muito depois destes espetáculos, é: o impacto causado no público define o resultado de qualquer obra artística. Nem sempre o público compreende a real intenção do artista em sua dimensão mais profunda, mas o impacto da impressão permanece e, às vezes, age como semente de reflexões que podem um dia alcançar substratos até mais amplos do que aqueles que o artista vislumbrou no momento da concepção da obra. Esse processo não tem um tempo predeterminado, pois que pode depender da vontade de quem recebeu a mensagem, ou de vivências que a pessoa ainda não experimentou.  Neste sentido, o trabalho do artista é semear ideias em terras desconhecidas e isso pode ser tão surpreendentemente excitante quanto irritantemente inquietante ao mesmo tempo.  


Em cena, CEU Água Azul. Foto: Daniela Guidoni    
Os depoimentos acima - colhidos no facebook após a apresentação do espetáculo "O Brilho de uma Alma", no CEU Água Azul, na quinta-feira, dia 10/11 e republicados aqui com as devidas autorizações de seus autores - demonstram que o impacto do trabalho foi satisfatório! Enquanto artista, creio que tanto eu quanto a Lua (posso afirmar por mim) consideramos essa apresentação do dia 10 mais tranquila e mais ousada do que a do CEU Jambeiro no dia 8/11, que foi mais tensa e mais técnica, embora estivéssemos dando nosso melhor em ambas. 

Público, CEU Jambeiro - Guainases. Foto: Maria Elisa Frizzarinni  
O interessante, porém, é que, apesar da parte artística ter tido maior expressão e vivência, para nós, no CEU Água Azul, enquanto seres pensantes, nos sentimos mais à vontade com o dinamismo, a espontaneidade e, sobretudo, com a curiosidade que os espectadores do CEU Jambeiro, que tornaram a roda de conversa um momento mais fluido, descontraído e orgânico.  Estimulados por suas perguntas, acabamos falando sobre a construção textual e cênica do espetáculo, simbologia dos objetos cênicos, filosofias e, em meio a tudo isso, abordamos aspectos importantes de como é conviver com uma limitação física e como a sociedade pode, de fato, auxiliar pessoas com as mais variadas diversidades funcionais. Foi uma partilha muito leve e gostosa! 


Particularmente, me impressionou bastante a maneira como me trataram, não houve elogios exagerados ou congratulações desnecessárias. Estavam todos interessados em debater questões pertinentes. Fiquei fascinado com a forma natural como viram minhas limitações. Senti que, lá no CEU Jambeiro, a arte que partilhamos superou a rala noção de que eu sou um "exemplo de vida". As pessoas que estavam ali, em sua maioria, queriam realmente conversar com os artistas, não quiseram estimular um cadeirante a continuar no seu caminho de superação. 


Público, CEU Água Azul - Cidade Tiradentes. oto: Daniela Guidoni  
Já na roda de conversa do CEU Água Azul, fizemos deliberadamente uma introdução mais especifica sobre a dicotomia que percebemos entre inclusão e integração e, talvez por isso,  o debate tenha seguido por rumos mais pautados sobre minha convivência com determinados obstáculos que a deficiência me proporcionou. Percebi que o público realmente foi afetado de modo positivo pelo espetáculo, entretanto, nessa ocasião, ficou muito evidente a tentativa de engrandecer, de uma maneira um tanto quanto excessiva, minhas lutas e, principalmente, minhas vitórias. Não senti piedade, pelo contrário, senti uma enorme comoção que acabou por culminar em muitos elogios a mim e ao meu trabalho; como se a ideia e execução do espetáculo fossem de crédito integralmente meu ou como se eu, por conta das questões motoras, fosse digno de glórias extras. 

O contraste de reação do público, observado e analisado posteriormente, me fez enveredar por linhas de raciocínio que ainda não haviam sido devidamente exploradas. A conclusão, por hora, é essa que apresento abaixo:
Roda de conversa pós espetáculo, CEU Jambeiro - Guaianases. Foto: Maria Elisa Frizzarinni

Esse trabalho e essa linha de pensamento que expressei e partilhei durante a roda de conversa é, em partes, fruto da minha experiência e convivência com a minha limitação física e com pessoas que possuem outras limitações, mas, majoritariamente, tanto enquanto processo artístico quanto em teorias e filosofias, seus caminhos passaram por milhares reflexões e construções coletivas, com todos aqueles que já trabalharam no espetáculo, com todas as trocas com o público durante rodas de conversa similares e, principalmente, com minha parceira de cena e de vida Lua Rodrigues. Sem a presença dela em todos os momentos desse processo, o resultado, certamente, não estaria tão bem estruturado e definido nem enquanto proposta teatral nem enquanto proposta reflexiva. São dois anos de trabalho com este espetáculo. Por isso digo e reafirmo que não me considero um exemplo. Posso, no máximo, ser inspiração e fonte de incentivo para as pessoas que, como eu, convivem com algum tipo de limitação; mas às pessoas consideradas "normais", eu não posso ser referência alguma, por que, só quem convive diariamente com as limitações de outras pessoas, pode dizer e mostrar que isso é humanamente possível aos seus "iguais". Visto por esse ângulo minha mãe Denise Oliveira, minha esposa, Lua Rodrigues e, futuramente, nossos filhos, é que possuem as mais ricas experiências a serem partilhadas, pois estas pessoas é que sabem as dificuldades que enfrentam para estarem perto de mim!


Novamente, agradecemos a todos que trabalharam para que esses momentos tão gostosos pudessem acontecer!

   

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